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Instituto da Mata Atlântica ameaçado de extinção

Cidade - Desastre Ambiental - Meio Ambiente - Notícias - Santa Teresa - 1 de dezembro de 2015

**DIGA NÃO À EXTINÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA **

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Por Alyne dos Santos Gonçalves (doutoranda em história)

Alyne Gonçalves Alyne Gonçalves

O desastre ecológico ocorrido com o rompimento de barragens de rejeito de minério na mais importante bacia hidrográfica totalmente incluída na Região Sudeste, representada pelo Rio Doce, além de ter ceifado dezenas de preciosas vidas humanas, destruído vilarejos e todo um modo de sustento baseado na pesca e agricultura de comunidades ribeirinhas, golpeou duramente a biodiversidade da bacia.

Para além das questões mais urgentes – como o atendimento integral às vítimas direta e indiretamente atingidas e as obras de contenção e monitoramento das demais barragens ameaçadas de rompimento –, a tragédia ecológica nos coloca diante de questões fundamentais, até aqui bastante ausentes do debate público. A primeira delas é a urgência de pensarmos estratégias articuladas e de grande envergadura para tornar a vida no Doce, e ao redor dele, uma realidade perene e sustentável.

Neste esforço sistemático e de longo prazo, a sociedade e os governos não podem se esquivar do debate sobre os valores e comportamentos que norteiam nossa relação com a natureza, hoje pautados no imediatismo do consumo, do descartável, da produção sempre crescente de lixo, da valorização dos indicadores econômicos em detrimento dos limites colocados pela própria esgotabilidade dos recursos naturais. Em nome do “progresso” da sociedade, prioriza-se o aumento da produção de minérios, petróleo, madeiras, água para o consumo de empresas, sob a promessa de mais divisas para os cofres públicos e mais postos de trabalho para a população. E assim, fica fácil justificar a flexibilização das exigências ambientais e, no limite, sua negligência completa.

Falando especificamente do bioma Mata Atlântica, no qual o Rio Doce está inserido, repensar nossa relação com a natureza significa, em primeiro lugar, conhecer melhor seus elementos e o funcionamento ecológico de suas interações. Concomitantemente, é preciso pensar e articular estratégias para proteger e conservar o pouco que ainda nos resta de Mata Atlântica, o que implica em costurar parcerias entre governos, institutos de pesquisa, empresas e sociedade civil, paralelamente a esforços estruturais de educação ambiental, mirando o futuro das próximas gerações.

Há no Espírito Santo uma instituição com tradição de 66 anos nessa área específica de atuação. O hoje chamado Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) é herdeiro direto da trajetória de pesquisas e difusão científica inaugurada pelo naturalista Augusto Ruschi, em 1949. A partir da fundação do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão (MBML) – atual INMA –, o ambicioso projeto de Ruschi em criar uma referência mundial em pesquisas sobre a Mata Atlântica, bem como um front avançado na luta pela conservação ambiental, foi tomando corpo e atraindo contribuições de muitos cientistas do Brasil e do mundo ao longo dessas seis décadas.

A transferência – ainda não concluída! – da estrutura do INMA/MBML da alçada do Ministério da Cultura (MinC) para o de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT&I) será essencial para a concretização daquele ideal de Ruschi. Acrescente-se a isso que o novo instituto representa uma esperança de articulação dos esforços relativos não só ao aumento de conhecimentos sobre a Mata Atlântica, mas no que toca a fomento e coordenação de diferentes iniciativas em favor da recuperação e conservação desse bioma tão duramente destruído ao longo do último século.

Apesar da valiosa expertise acumulada e do papel estratégico a desempenhar nos cuidados com a natureza, vivemos uma situação singular, para dizer o mínimo: enquanto as urgências ambientais exigem respostas complexas, responsáveis e com embasamento técnico-científico, o INMA, que muito poderia contribuir nesse sentido, sofre a grave ameaça de ser extinto em pleno nascedouro! Parece que o enlace entre necessidades e oportunidades percorre caminhos demasiado tortuosos no mundo da política. Mal o Instituto foi criado (Lei 12.954, de 05 de fevereiro de 2014), já precisa se debater contra a intenção declarada de burocratas do alto escalão federal em fundi-lo a outros 3 institutos recém criados, transformando-os em um só – portanto, extinguindo-os em sua especificidade e autonomia. O objetivo? Contenção de gastos… Ora, corte de despesas em áreas estratégicas como pesquisa, difusão científica e conservação da natureza soa, no contexto atual, como eufemismo para irresponsabilidade – com o presente que agoniza e com o futuro que urge em ser construído a partir de agora!

Por tudo isso, é essencial que a sociedade, autoridades e a opinião pública se mobilizem para não perder o patrimônio capixaba iniciado por Augusto Ruschi e que pode estar a um passo de se converter em patrimônio nacional e internacional de ciência e conservação ambiental – ou, se nada for feito, de ser extinto, acompanhando a lógica perversa que infelizmente tem sido imposta a tudo que se refere à natureza.

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