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Uma professora pomerana

Artes, Letras e Cultura - 5 de dezembro de 2020

Por: Jandira Marquardt Dettmann

Filha de pais pomeranos residentes no campo e que não conseguiram concluir seus estudos devido à necessidade de trabalhar para o sustento de suas famílias, presenciei a luta de um pedreiro, Georg Marquardt e uma dona de casa, Regina Abeld Marquardt, meus amados pais, para dar condições mínimas de vida a mim e ao meu irmão Valdir, principalmente quanto aos estudos. Ingressei na escola falando somente a Língua Pomerana, mas superei as barreiras, aprendi a me comunicar, a ler e a escrever em português. Ao rememorar essa parte da minha história, sinto gratidão por meus pais terem lutado para que eu prosseguisse estudando e, assim, iniciasse carreira em 1983, aos 15 anos de idade, em uma escola multisseriada. Posteriormente atuei na Educação Infantil e em turmas seriadas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, em comunidades onde o povo pomerano era predominante. A perseverança dos meus pais culminou na pesquisa sobre o Povo Tradicional Pomerano, temática que me instiga como pessoa e profissional da Educação, me desafiando a buscar construções coletivas de conhecimento. A trajetória como professora permitiu-me uma experiência pedagógico-cultural marcante, por dominar as duas línguas usadas nesses contextos, o português e o pomerano. Vários aspectos constituíram-me professora/pesquisadora com um olhar voltado à docência em contexto bilíngue português-pomerano. Entre eles, as inquietações de minha infância e adolescência como pomerana; o ser professora nesse contexto de Santa Maria de Jetibá; ser falante da Língua Pomerana e, na última década, a luta por sua vitalidade e manutenção. Com a percepção da necessidade de avanços em pesquisas sobre a temática, desenvolvi pesquisa no mestrado que resultou na publicação do livro Uma professora pomerana na escola: culturas, língua e educação, pela editora Appris, em 2018. A obra traz uma síntese da trajetória do povo pomerano, destaca aspectos culturais e linguísticos, o percurso educacional em terras capixabas, a língua pomerana e o Programa de Educação Escolar Pomerana (Proepo); discute a docência, apontando que as práticas da professora pomerana se ressignificam na interação com os saberes culturais, experienciais e coletivos produzidos na dinâmica escolar e comunitária, possibilitando o diálogo da cultura escolar com a cultura da escola, promovendo a vivência das experiências locais e o acesso ao saber universal.

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