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CAPIXABA PROCURA TÚMULO DO PAI EM RONDÔNIA HÁ 40 ANOS OU “DEPOIS DE 40 ANOS PAVOENSE ENCONTRA DESTINO DO PAI EM CEMITÉRIO DE RONDÔNIA”

Cidade - Notícias - 12 de fevereiro de 2021

Por: Jorge Küster Jacob

Meu pai, Sefridt Jacob abandonou a família (mamãe e sete filhos) em 1972, no Córrego do Estevão (Vila Pavão- ES) na casa do meu avô Renaldo Jacob. Voltou um dia a noite e saiu de madrugada para buscar as certidões de nascimento dos filhos para conseguir 42 alqueires de terra em Cacoal Rondônia e nunca mais voltou. Terra na época ofertada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária/INCRA. Papai foi proprietário do Bar Jacob, um dos seis primeiros comércios de Cacoal.

Minha família ficou no Espírito Santo e eu fui pro Rio Grande do Sul estudar em 1974. Na época, cartas eram escritas e demoravam mais de um mês para chegar. Vez outra algum emigrante mandava cartas com o pau de arrara. O contato do papai com a família era muito pouco. Mamãe rejeitava ir para Rondônia porque já tinha morado com ele no Paraná e sofreu muito. A família teve que sair da terra do vovô porque vendeu e migrou para Rondônia também. Ai minha família foi morar nas terras do Alberto Buge de meeira. Lembro que voltei de férias uma vez, e minha mãe e irmãos só não passaram fome porque teve ajuda, como por exemplo, do tio Floriano Kester. Comiam inhame de manhã, no almoço e na janta. Não tinha os programas sociais como a bolsa família de hoje. Lembro que as necessidades a gente fazia no mato, Banho no córrego ou na bacia. Tudo isso no auge da Ditadura Militar em 1980. Eu trabalhava nas férias (janeiro, Fevereiro e julho) de garçom em hotéis (cheguei a ser gerente) em Canela ou Tramandaí para me sustentar nos estudos durante o ano. Eu tinha moradia da minha igreja e o café da manhã. As vezes deixava de jantar porque precisava pagar passagem de ônibus para ir a faculdade. Minha família passava dificuldades enormes aqui e eu nos estudos no Rio Grande do Sul.

Em janeiro de 1981 escrevi uma carta para o papai dizendo que eu iria visita-lo nas férias de julho. Não recebi a resposta. As férias de julho passaram. No fim do mês de agosto recebi uma carta da esposa dele que ele tinha falecido no dia 28 de julho. Mês que eu iria visita-lo. Foi muito triste. Talvez pudesse ter feito algo uma vez que a causa da morte foi “acidente vascular cerebral”. Depois disso nunca mais mantive contato. Perdi a referida carta. Em meados da década de 1980 tentei localiza-lo via redes sociais. Viajei a passei para Rondônia seis vezes. Irmãos já tinham tentado o contato, mas os parentes que moravam na simplicidade nem no enterro foram. Alguns chegaram a procurar em Cacoal, Vilhena, Pimenta Bueno, mas parecia que havia algo errado. Ninguém sabia informar nada e o tumulo não era encontrado. Havia sempre informações que ele estaria vivo. Um garantiu que viu pregando numa igreja evangélica e que foi falara com ele, mas o mesmo sumiu. Era emocionante alguém chegar e dizer “seu pai está vivo”. Mas um dizia que o outro tinha comentado com ele e esse outro havia recebido a informação de um terceiro que por sua vez recebeu de um quarto informante. Eu somava as datas e era fato: ele estava vivo sim em 1980 quando o quarto informante teria estado com ele.

Depois disso fui outras vezes em Rondônia para fazer pesquisas sobre os pomeranos e aproveitava para buscar informações sobre se alguém sabia onde papai fora sepultado. Meus parentes, de famílias muito humildes, pareciam não querer dar informações ou porque não sabiam ou por algum receio uma vez que papai tinha algumas encrencas na região.

Com relação às terras que papai teria conseguido graças as nossas certidões: Essa fazenda estaria próxima à sede no município de Cacoal. Nela papai havia aberto um clarão construído um barracão e logo depois vendido. Papai nunca foi chegado à agricultura ou pecuária sempre teve e se identificou com o comercio. Mas as terras estavam nos nomes dos filhos? Existia também a lei “usucapião”. A bandidagem na região na época era grande por questões agrárias e por isso ninguém da família e parentes nunca quis averiguar. Já tinha mais de dez anos quando começamos a nos indagar sobre essas nossas eventuais terras em Rondônia. Mas não eram só os destinos das nossas terras, mas principalmente o destino do papai que deixava uma lacuna em todos da família.

Com a melhoria das redes sociais, coloquei uma foto e um texto do papai no Facebook e ali começamos a localizar tios e primos em Rondônia. Alguns disseram que papai teria sido sepultado em Juína (MT), outros em Vilhena ou Pimenta Bueno. Depois localizei na Whatsapp um grupo “Pomeranos da Amazônia”. Perguntei se tinha algum pomerano de Vilhena e se manifestou Cleomar Klipel Ratske. Expliquei a situação e pedi se ele podia localizar pra mim a certidão de óbito e eventualmente a sepultura do meu pai. Muito cordial fez questão de ajudar. Em uma semana tinha a certidão na mão e mandou uma foto pelo Whatsapp e encaminhou a original que por coincidência chegou ao momento que comecei a fazer estes registros (hoje, 14 de maio de 2020). Quando ele disse que encontrou e me mandou uma copia comuniquei a todos e finalmente obtivemos a certeza que ele faleceu, causa e cidade onde foi sepultado. Na certidão, entre outros detalhes consta o nome completa da esposa dele na época. Joguei o nome no Google e localizei uma reportagem com ela em Vilhena. Ainda não consegui fazer contato. Também joguei nesse portal o nome do Cemitério Cristo Rei de Vilhena. Descobri que Vilhena tem 100 mil habitantes e que no cemitério 4 mil sepultados. E tem 540 covas abandonadas ou por ser indigentes, falta de manutenção, portanto sem identificação. Existe um estudo inclusive de se transferir os ossos para um ossuário.

O Cleomar Klipel Ratske voltou ao cemitério conversou com o responsável e de 1985 aos dias atuais há uma lista. Como papai faleceu em 1981 o nome não está na lista. Cleomar deu mais uma olhada com o responsável na parte mais antiga do cemitério e nada encontrou. Depois Cleomar foi tentar encontrar a Maria Leopoldina Jacob que era casada com papai na época, conforme consta na Certidão de óbito e lá os vizinhos informaram que ela já se havia mudado quando chegaram ao bairro e não souberam informar para onde. Cleomar descobriu uma vizinha que morava lá com Maria na época, mas ela não estava em casa.

Finalmente Cleomar conseguiu falar com Maria Leopoldina que a princípio não quer falar conosco. Notícia triste que o túmulo não será encontrado porque na época antes de 1985, o cemitério não era organizado, como Maria morou um tempo fora, o túmulo do Sefridt Jacob desapareceu com tempo e um trator passou por cima.

Jorge Kuster Jacob, o filho mais velho, com 62 anos, cujo referido pai morreu com 46 anos pretende agora requerer junto à administração do cemitério um espaço mínimo para colocar uma placa e uma coroa de flores identificando onde estão os restos mortais de seu pai “para que depois de 40 anos possamos recuperar e vivenciar retroativamente esse luto e que os parentes quando passarem por Vilhena possam ainda colocar um buque de flor e dizer pra si mesmo aqui está meu pai, avô, tio, irmão, cunhado e amigo Sefridt Jacob”. E assim a árvore genealógica de muitos parentes, que teve espaços em branco durante 40 anos possam ser finalmente preenchida.

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