O ANDARILHO DA ESCULTURA DE PEDRAS
Por: Antonio Neto
O olhar do poeta enxerga bem mais do que aquilo que as retinas captam. É um olhar que interpreta, ressignifica, cobre de valor atos e coisas que são desvalorizados pelas pessoas que passam alheias ao belo.
O ANDARILHO DA ESCULTURA DE PEDRAS
Era uma manhã fria de inverno, o sol apareceu tímido enquanto o nevoeiro, devagar, ia sumindo entre uma colina e outra. De repente, alguém estranho se manifesta com assobios e acenos:
– Bom dia! Como vai? Cuidado!
Vai indo em frente, meio louco, mas contente. Já se acomodou, estendeu o agasalho no varal improvisado; deu ração aos seus dois amigos cachorros, companheiros da jornada
Aproxima-se, pede água e, com muita ousadia, arrisca-se a falar algumas palavras em Pomerano. Trata-se de um mulato com aparência de trabalhador braçal. Ele para o trânsito a ajuntar pedras, cumprimenta quem passa. Depois, com muito respeito, faz o sinal da cruz e vai ao templo, parece falar com Deus. Por alguns minutos, descansa todo à vontade ao lado da igreja, como se a grama servisse de lençol e o sol de cobertor. Isso durante umas três horas! Lá por volta do meio dia, ainda pede mais um pouco de água, fala que está partindo e desaparece.
Mistério: para a surpresa de todos, lá está uma escultura de pedras, pequena, mas incrível! São nove pedras muito bem colocadas, que atraem os olhares de quem passa pela rua!
Como num conto de magia, ele apareceu e, subitamente, sem deixar rastro, desapareceu. Deixou-nos a escultura de pedras, como marca de que passou por Santa Maria de Jetibá.
Amélia Schultz Zager *
15/07/2020.*