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O Rio Doce somos todos nós

Baixo Guandú - Desastre Ambiental - Meio Ambiente - Notícias - Rio Doce - 26 de novembro de 2015

Foto: Secom BG Neto Barros relata a situação de Baixo Guandú

Prefeito de Baixo Guandú, Neto Barros, faz relato da real situação no município após a tragédia da barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, que dizimou milhares de animais e tirou o sustento de muitas famílias as margens do Rio Doce.

O desprezo pela vida e a ganância produziram o maior crime ambiental do Brasil – um dos maiores desastres ecológicos do mundo. Pasme, era uma tragédia anunciada!

Assusta-nos que a Samarco (Vale/BHP Billiton) tinha “licença para matar”. Mas como uma irresponsabilidade dessas, capaz de exterminar comunidades inteiras e acabar com a vida de um dos mais importantes rios do Brasil, poderia existir?

Ah, existiam vilas e cidades com milhares de pessoas abaixo da montanha de rejeitos? Havia risco aos trabalhadores da empresa? Tudo acontecia próximo à nascente de um rio federal de mais de 850 quilômetros. O dano ambiental atingiria o mar? E daí! Infelizmente tudo são meros detalhes na mente daqueles que não se importam bulhufas com nada além do próprio bolso.

A notícia de que a morte de pessoas, fauna e flora do rio Doce, grave desequilíbrio ecológico e prejuízos econômicos seria nossa realidade chegou de repente, felizmente antes dos rejeitos que imediatamente vitimou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, MG.

O fator tempo nos deu condições de preparar um plano de contingência e garantir o funcionamento da cidade, com água de qualidade para todos, além da amenização de outros impactos. Restou-nos depois de garantir o abastecimento de água assistir a morte do nosso rio Doce. Lamentável.

Visitando o município de Governador Valadares para presenciar aquilo que nos aconteceria quando os dejetos mortíferos chegassem ao Espírito Santo pude ver que a situação era muito mais grave que o noticiado até então. Imediatamente liguei para o governador Paulo Hartung e pedi para agirmos rapidamente de modo a capturar toda a vida que havia rio abaixo até o Oceano. Prontamente o Estado agiu e deu-se início à Operação Arca de Noé (pescadores, autoridades e voluntários se desdobraram para salvar algumas espécies, o que fosse possível, é claro – para cada peixe salvo nosso trabalho valeu à pena).

A postura adotada pela prefeitura de Baixo Guandu/SAAE de coletar amostras da água contaminada nos fez trabalhar contra o tempo para garantir outra fonte de água tratável para consumo e mostrou ao mundo que a tragédia ambiental era a maior do que até então se imaginava. A presença de elementos tóxicos na água esterilizou o rio e trouxe malefícios impossíveis de se precisar por quanto tempo durará.

Estamos fadados ao envenenamento lento e perene. Eis o porquê de lutarmos pela recuperação do rio e a responsabilização dos criminosos, para que tudo isso não caia no esquecimento.

Vale lembrar que as alardeadas multas milionárias aplicadas à criminosa Samarco geralmente não são pagas, como ocorre com outros gigantes do mesmo porte. Basta consultar as pilhas de processos que se arrastam por décadas na justiça.

Havia mais de uma semana do rompimento da barragem. Tínhamos tomado todas providencias para garantir a manutenção do abastecimento de água e outros planos para minimizarmos os impactos da tragédia em Baixo Guandu e a Samarco não tinha aparecido para ajudar ou dar as respostas necessárias. Sequer havia entrado em contato para se solidarizar conosco. Resolvemos paralisar a ferrovia para denunciar o absurdo ao mundo e cobrar atitudes da responsável.

A justiça agiu rapidamente para liberá-la. Em menos de seis horas veio ordem para desobstruir as linhas e garantir o transporte do minério de ferro. Curiosamente foi a primeira manifestação do judiciário sobre o crime ambiental, pena que a favor da empresa. Tudo pelo capital! Hoje sabemos que a Vale (além de acionista da Samarco junto com a BHP Billiton) também se utiliza das represas de rejeitos.

As jazidas de minério de ferro de Mariana durarão mais 60 anos (no máximo, apontam os estudos). O que será da região que hoje é dependente da atividade da mineração depois que o mineral acabar? Quem irá primeiro, o bem material ou a vida? São perguntas que possivelmente ficarão sem resposta se não as cobrarmos mobilizando a sociedade.

Que tudo isso sirva para mudarmos os valores que até então moldaram a sociedade brasileira, para melhorá-la. É preciso avançar! O desenvolvimento sustentável é a única forma de evitar que continuemos rumando em direção ao abismo. Ainda dá tempo. Unamo-nos, é chegada a hora! E aí, será que vale a pena o desenvolvimento a qualquer preço?

Neto Barros (PCdoB)

Prefeito de Baixo Guandu / ES

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